Em vésperas das primeiras eleições mutirraciais na África do Sul, Nelson Mandela encarava sereno o caminhar à beira do abismo.
A extrema direita lançava uma série de atentados bombistas e o Partido Inkatha, do príncipe zulu Mangousuthu Buthelezi, pegava em armas contra a hegemonia do ANC.
Mandela escolheu estender as mãos a uns e a outros.
Transformar adversários e inimigos em parceiros de solução. Tirar o melhor de todos à sua volta.
Um santo? Longe disso. Ele próprio sempre nos alertou contra isso...a menos que vejamos num santo um pecador que continua a tentar.
Como é habitual, no nosso Eurocentrismo, vamos ignorar ou até menosprezar o alerta do rei zulu Goodwill Zwelithini mas se por acaso fôssemos mesmo uma sociedade culta, como gostamos de acreditar, teríamos uma atitude bem diferente.
Zwelithini é a primeira figura de uma das maiores e mais antigas etnias de África, portadora de valores colectivos que só perdemos em ignorar.
Entre nós será unânime criticar o colonialismo e o racismo mas quando milhares de zulus sofrem de fome numa das regiões mais ricas do mundo em termos agrícolas e todos ignoramos os protestos de Zwelithini quem será que está errado? Ele ou nós?
É claro, como as televisões não o mostram e isto se passa no hemisfério sul, não temos nada a ver com isso.
E assim vai a nossa civilização.