
É estranho como no mundo lusófono andamos sempre ao contrário das mentes mais abertas.
Enquanto, por exemplo, na África do Sul, as feridas do apartheid foram saradas através de uma Comissão da Verdade e Reconciliação, DOIS ANOS após o fim daquele, no mundo lusófono ainda trocamos acusações sobre o passado colonial que acabou há TRÊS DÉCADAS E MEIA.
Na África do Sul entendeu-se por bem manter-se nomes de afrikanders que a mal ou bem fizeram parte da história do país, tal como ele é hoje.
Em Moçambique, em sentido contrário, celebra-se hoje a substituição de nomes como Marquês de Pombal numa Avenida de Maputo, por um que a esmagadora maioria dos residentes da capital mal consegue pronunciar (Chinyamapere).
Na África do Sul procura-se fazer com que todas as comunidades se sintam integradas e parte do país a construir. No mundo lusófono ainda há nós, os coitadinhos, e eles, os opressores.
Mesmo que os oprimidos o sejam há mais de três décadas por incúria dos respectivos líderes políticos e por tratarem à pedrada aqueles com que poderiam há muito ter (re)construído pontes.
Leiam o último livro de Mia Couto, “E se Obama fosse africano”, e caiam na real.
Ou será que agora o Mia também vai ser criticado como neo-colonialista por falar verdades politicamente incorrectas?

Xenofobia.
Dita o dicionário que se trata de antipatia ou aversão pelas pessoas ou coisas estrangeiras ou estranhas, com as quais habitualmente não contactamos ou que usamos como bodes expiatórios das nossas frustrações.
De Itália chegaram-nos em menos de uma semana três incidentes, graves, relacionados com esta patologia social.
O último dos quais teve hoje por vítima um imigrante indiano que foi brutalmente agredido e queimado de madrugada, por um grupo de indivíduos numa estação de comboios nos arredores de Roma.
Trata-se de um sem-abrigo, de 35 anos de idade, que dormia na estação de Nettuno, sul de Roma, quando foi agredido por vários indivíduos, que lhe pegaram fogo depois de o regarem com combustível.
A cena não se passou num país obscuro, longínquo, quiçá africano ou asiático (onde nos costumamos ilibar) mas aqui mesmo ao lado. Na super moderna e “trendy” Itália, da União Europeia.
Dá que pensar não dá?