Chego ao escritório e mais uma notícia de terramoto devastador.
Em pouco mais de um mês a energia libertada pelo atrito entre placas terrestres já espalhou a morte no Haiti, Chile e agora na Turquia.
Dias depois chegam-nos na net registos impressionantes, amadores - como este que anexo - testemunhos pessoais de como estes fenómenos não são uma "coisa" sem face, remetida aos alinhamentos dos telejornais.
Somos irmãos de um mesmo sorriso e de uma mesma lágrima. Ou ainda não demos por isso?
Numa assentada, "terramota-se" o Haiti e o Chile e "enxurra-se" a Ilha da Madeira...e a essência do humanismo.
Em comum o cenário de dor e o relembrar da nossa pequenez perante a natureza mas também a curtez de valores de tantos seres humanos.
No Chile foi declarado o recolher obrigatório em diversas zonas por causa das pilhagens de "oportunistas" do desespero alheio.
Já fora assim no Haiti e depois na Madeira onde esta "insónia" tirou o sono a uma PSP desmotorizada (grande parte do respectivo parque automóvel também foi na enxurrada).
Dá que pensar não dá?
Foi um dos maiores terramotos do século.
Apesar de muitos dos edifícios serem construídos em estruturas anti-sísmicas, centenas deles não resistiram a um primeiro abalo de intensidade 8.8 e às mais de 20 réplicas que se lhe seguiram.
Nas redações seguimos a esta hora - noite adentro em Portugal - o desfecho dos alertas de tsunami decorrente do terramoto, feitos em dezenas de países do Pacífico.
Nas primeiras horas, pelo menos as Ilhas Juan Fernando, Galápagos e Robinson Crusoé foram fustigadas por mega-ondas.
Para a história fica a memória de um país (Chile) vitima recorrente de terramotos, como o que em 1960 devastou o país.
(Imagem BBC)
Terá sido o maior tsunami no planeta; as cheias zanclenianas do Mediterrâneo.
Cientistas espanhois publicaram um estudo na revista Nature segundo o qual o Mar Mediterrâneo foi reposto numa cheia catastrófica após a chamada crise de salinidade Messiniânica.
Tudo aconteceu há 5,6 milhões de anos, quando a pressão do Oceano Atlântico cavou uma passagem através do Estreito de Gilbraltar, projectando por ali uma torrente de água mil vezes superior ao actual caudal do Rio Amazonas.
Imagine-se o efeito desastroso que essa massa de água terá tido sobre todo o litoral por ela atravessado.
O grupo de autores do estudo, liderado por Daniel Garcia-Castellanos, pertencem ao Conselho de Investigações científicas de espanha (CSIC).
O Mediterrâneo esteve quase a secar há seis milhões de anos, ao ficar isolado dos oceanos durante 350 mil anos, devido ao levantamento tectónico do Estreito de Gibraltar.
As águas do Atlântico tiveram, então, de encontrar um novo caminho através do Estreito. Quando o "descobriram", encheram o Mediterrâneo com a maior e mais brusca inundação que a Terra jamais conheceu.
A enorme descarga de água aconteceu quando o istmo que liga a África à Europa se abateu.
O desnível de ambos os mares, com um quilómetro e meio, fez encher o Mediterrâneo ao ritmo de até dez metros diários de subida do nível do mar. A inundação que ligou o Atlântico ao Mediterrâneo provocou no fundo marinho uma erosão de cerca de 200 quilómetros de comprimento e vários quilómetros de largura, segundo indica o estudo.
Foi neste período de até dois anos que o mar se encheu com 90 por cento da água que tem actualmente.