Um clérigo iraniano mal sabia em que se estava a meter, quando atribuiu à semi-nudez feminina a origem dos abalos sísmicos no nosso Planeta.
Para Kazem Sedighi o trajar "indecoroso pelas mulheres" conduz jovens a maus caminhos, corrompe a sua castidade e propaga o adultério na sociedade; tudo isso - segundo ele - causa um aumento dos terramotos.
Quem não se ficou por um sorriso irónico foi uma estudante universitária do Estado de Indiana, que abalou o Facebook com um "boobquake", um movimento que angariou dezenas de milhares de signatários em poucas horas.
Jennifer McCreight apela às mulheres que usem saias ou calças mais curtos do que o habitual, como forma de protesto e de luta contra a opressão do suposto...sexo fraco.
Chego ao escritório e mais uma notícia de terramoto devastador.
Em pouco mais de um mês a energia libertada pelo atrito entre placas terrestres já espalhou a morte no Haiti, Chile e agora na Turquia.
Dias depois chegam-nos na net registos impressionantes, amadores - como este que anexo - testemunhos pessoais de como estes fenómenos não são uma "coisa" sem face, remetida aos alinhamentos dos telejornais.
Somos irmãos de um mesmo sorriso e de uma mesma lágrima. Ou ainda não demos por isso?
Foi um dos maiores terramotos do século.
Apesar de muitos dos edifícios serem construídos em estruturas anti-sísmicas, centenas deles não resistiram a um primeiro abalo de intensidade 8.8 e às mais de 20 réplicas que se lhe seguiram.
Nas redações seguimos a esta hora - noite adentro em Portugal - o desfecho dos alertas de tsunami decorrente do terramoto, feitos em dezenas de países do Pacífico.
Nas primeiras horas, pelo menos as Ilhas Juan Fernando, Galápagos e Robinson Crusoé foram fustigadas por mega-ondas.
Para a história fica a memória de um país (Chile) vitima recorrente de terramotos, como o que em 1960 devastou o país.
Um hotel de luxo desfeito com a fragilidade de um castelo de cartas.
Equipas de emergência travam uma luta contra-relógio para resgatar sobreviventes entre os escombros daquilo que foi uma cidade...a capital haitiana.
Num país de população com dimensão idêntica à portuguesa, vegeta-se na rua e, à medida que os dias se somam, agrava-se o desespero de quem luta pela sobrevivência.
A ajuda humanitária chegou desta vez em quantidades maciças, mas o aeroporto de Port au Prince não tem meios para descarregar os contentores de alimentos, medicamentos e outros donativos internacionais.
A fragilidade humana deixada a nú. Não será tempo de revermos o autismo em que vivemos e as ilhas de solidão que vamos construindo à nossa volta?
http://abcnews.go.com/video/playerIndex?id=9566244
Se dúvidas houvesse a tragédia do Haiti deixou-o bem claro; este é um só Mundo!
Ninguém pode ficar indiferente à tragédia que se abateu sobre um país de mais nove milhões de pessoas, uma população próxima da portuguesa e na sua esmagadora maioria pobre.
A Save the Children fala de mais de dois milhões de crianças afectadas e que muitas delas terão ficado orfâs ou feridas.
Enquanto isso, familiares e amigos de pessoas desaparecidas, escavam com as próprias mãos entre ruínas de prédios de cimento, guiados pelos gemidos e gritos de vítimas ainda sobreviventes.
Nos Estados Unidos, Barack Obama já o afirmou; este é um tempo de a humanidade dar as mãos. O sofrimento haitiano é de todos nós.