Experimentem, a ausência da nossa voz não é o sentir dos arco-íris que tal silêncio pode semear.
Somos pedrinhas de uma longa caminhada e das coisas mais linda que o Mia (Couto) me contou um dia foi a magia nele despertada, pelo pai, quando o ia buscar à escola, a pé, e sempre tinha tempo para os brilhos do mundo, rasteiros, que a maioria dos adultos vai desaprendendo de sonhar.
Menina se esbrilhava no olhar para dentro de si, roçando os lábios e o nariz, de mansinho, no vidro embaciado do quarto.
Lá fora a chuva miúdinha pastava carreirinhos de mil regatos, recortando o alcatrão, os contornos do passeio calcetado.
Menina se princesava aos olhos e coração de um sonho de ser feliz, na pele, na alma. No gostar porque sim. No arrepiar dos sentidos, do fundir do hálito quente, numa fome sem fim.
Ela se investia. Se arremetia em múltiplas marés. Amando até doer. Doendo no recuar, como se a alternância das luas, a aprisionasse nesse dançar.
Menina era tudo isso. Fascínio de mais-querer. Até ao dia em que serenou, na praia do gostar.