Foi um dos cada vez mais raros jornalistas lusófonos a quem tiraria o chapéu, se o usasse.
O foto-jornalista moçambicano Ricardo Rangel morreu em paz aos 85 anos durante o sono.
Conheci-o enquanto fui chefe da delegação da agencia Lusa em Moçambique nos anos 80. Ele um reporter tarimbado e eu um recém-apaixonado por um país de rastos onde até uma simples pasta de dentes era um produto precioso no rarefeito mercado local.
Ricardo Rangel participou em dezenas de exposições em diversos países, incluindo o Museu Guggenhheim, em Nova Yorque, e foi condecorado com o grau de Oficial das Artes e Letras pelo governo francês.
A sua impressão digital neste mundo é bem maior do que aquele olhar severo com que nos fuzilava; é a de um observador nato, um homem com um fundo e valor humano raros.
Um daqueles jornalistas em extinção, humilde, aberto à crítica, alheio às guerras das audiências, aos sound-bites, ao amiguismo e ao vazio de referências.