Um sinal do que nos espera; a agencia espanhola de informação EFE vai cortar em 4,5 % os salários de 900 funcionários em alternativa a despedimentos ainda mais penosos.
Todo o mundo fala do mega aperto de cinto imposto à Grécia e que sombras negras rondam Portugal mas até à data os salários dos que ainda retêm os postos de trabalho neste país mantêm-se intocados....por enquanto, acrescento eu.
Em Espanha, que foi (na última década) uma referência de crescimento económico, os funcionários da EFE iniciaram hoje uma greve de dois dias que de pouco ou nada lhes valerá.
Face à quebra de publicidade a nivel mundial a administração da empresa terá de reduzir este ano os encargos salariais em 2,2 milhões de euros e a alternativa a cortes salariais é o desemprego ou o encerramento de inúmeros serviços.
Muito mais cedo do que esperamos, todos os que trabalhamos por conta de outrém vamos ter cortes nos salários para evitar seguirmos o descalabro de Atenas.
A matemática é uma ciência lógica e exacta. Quando consumimos muito mais do que o que produzimos, o fazemos há muito e nos habituámos a depender de um Estado em rota de falência (insustentável a médio e - ainda mais - longo prazo), o acerto só é possível através de um aperto de cinto radical.
É como gastar-se todos os meses mais do que o recebido em salário!
Durante muitos anos sustentou-se isso à conta dos décimos terceiros e quartos meses. E depois com a conta-salário. O problema é que o credor – o Estado – também já se endividou ao limite dos juros que consegue suportar!
E agora? A solução é óbvia. Penosa, mas óbvia.
Habituámo-nos a um laisser-passer, décadas a fio, acreditando na sustentação do país por uma suposta qualidade de serviços, quimera que, de repente, está a ser deixada a nú. Sem anestesia.
Para mim que multipliquei o amor pelo meu país - ao residir 16 anos no estrangeiro (por destacamento de serviço) - e me incomodam os velhos do Restelo ser-me-ia "lógico" e fácil enterrar a cabeça num buraco e presumir a ignorância do mensageiro.
Só que eu exerço este meu patriotismo da mesma forma que sou pai; olhando os problemas com carinho e positivismo mas também de forma realista e responsável.
Não se iludam; o filme “Up in the air” de George Clooney poderá parecer uma visão cínica da forma como empresas e países serão cada vez mais geridos. Mas é – em boa verdade – cada vez mais a via-padrão, num mundo onde os valores prevalecentes são financeiros e não humanos ou humanizantes.