Seis meses depois de ter chegado a Moçambique Moreno morria de SAUDADE de tudo e mais uma gota de chuva familiar.
Estava tão insatisfeito com o rame-rame da própria vida e a urgência de luz que arrastou meio mundo, a começar por si mesmo, na convicção de ser capaz de assumir a chefia de um posto importante em Maputo. E que por ali seria seu crescer interior.
Passados seis meses, Moreno era um remoinho de interior solidão. E o país , naqueles dias, um imenso buraco negro. Paupérrimo em valores materiais e, aparentemente, de estímulos existenciais.
Dia-a-dia, semana-a-semana, somou-se-lhe a vertigem de DESISTIR. Ùnica saída vislumbrável para aquele sufoco.
Por um lado vincava-se a certeza de ter atingido seus limites.
Por outro, prendia-o à Terra, a CULPA de no saltar para essa viagem ter arrastado tantas fés em si, incluindo um investir arrebatado de toda a própria luz.
Dia-a-dia, noite-a-noite, somava-se-lhe no peito uma exaustão indizível. E AGORA QUE FAÇO?
Graças a Deus, as dificuldades logísticas do desistir e regressar eram igualmente extremas. E a dança do tempo, como sempre, transformou-se em contra-dança do sentir.
O esticar dos nossos limites tem também essa magia. Esse milagre.
É como se a crisálida que até ali éramos rebentasse seu envólucro extravasando-se numa linda borboleta. Apta a voar em vez do ser rasteiro até ali moldado.
Afinal, como sempre, a Mão Alta que ali o levara sabia-o bem melhor.
E por um xicuembo de sabedoria lhe ensinou que qualquer um pode desistir e, rasteiro, morrer crisálida.
Mas requere determinação e vontade.
Respeito por nós, para buscar a luz e sair a voar.