Foto João Silva
Detidos dormem no chão de prisão superlotada, Lilongué, Malaui.
Esta é uma das fotos que melhor traduzem o rasgo de um português descrito pelo director do New York Times como um dos melhores fotógrafos de guerra do mundo.
Bill Keller conheceu (tal como eu) o João quando os três cobríamos na África do Sul todo o processo que se seguiu à libertação do Nelson Mandela.
Refugiado naquele país com os pais, 15 anos antes, do caos que rodeou a independência de de Moçambique, João começara a trabalhar para o maior diário sul-africano, o The Star, enquanto eu e o Keller eramos correspondentes estrangeiros. Ele do New York Times e eu da Lusa. Ambos com escritórios no mesmo corredor do MediaCenter, da Pritchard Street.
Bill Keller escreve agora que desde aquela altura se impressionou com o talento, humildade e intuição raros do fotojornalista nascido há 44 anos em Lisboa.
Mas também com a força interior de um profissional que acredita irá vencer, também por isso, a mina que lhe amputou parcialmente ambas as pernas e retomar a sua paixão de fotografar. Assim que aprenda a caminhar em próteses.
Exagero? Irrealismo? Não o creio. Conheço diversos antigos "tropas" especiais que sofreram lesões semelhantes e se locomovem hoje, com agilidade, recorrendo a próteses. E o João é certamente feito da mesma fibra. Keller acredita nisso e eu também.
Para quem tenha tempo e sensibilidade, recomendo a leitura do artigo citado, através do link que aqui deixo do New York Times. É uma entrevista dada pelo João em Dezembro último....ajuíza por ti. E mais não digo. Não é preciso.
http://lens.blogs.nytimes.com/2010/10/26/joao-silva-acting-despite-fear/?scp=1&sq=joao%20silva&st=cse
Este terá sido o último trabalho assinado por João Silva, na véspera de pisar uma mina no Afeganistão:
http://www.nytimes.com/2010/10/21/world/asia/21kandahar.html
O fotógrafo português já se encontra internado num hospital militar americano na Alemanha, após sofrer amputação parcial de ambas as pernas.
João Silva acompanhava a reporter veterana do New York Times, Carlotta Gall (integrados numa patrulha militar americana), quando acionou uma mina de fabrico artesanal, numa zona que fora dada como limpa por batedores americanos.
Este é um excerto do texto, publicado pelo NYT no dia em que ocorreu o acidente e que incluía duas fotos assinadas por João Silva além de um gráfico do trajecto da reportagem.
ARGHANDAB, Afghanistan — American and Afghan forces have been routing the Taliban in much of Kandahar Province in recent weeks, forcing many hardened fighters, faced with the buildup of American forces, to flee strongholds they have held for years, NATO commanders, local Afghan officials and residents of the region said.
A series of civilian and military operations around the strategic southern province, made possible after a force of 12,000 American and NATO troops reached full strength here in the late summer, has persuaded Afghan and Western officials that the Taliban will have a hard time returning to areas they had controlled in the province that was their base (...)
João Silva continuou a fotografar enquanto os paramédicos lhe aplicavam torniquetes e o sedavam com morfina.
O testemunho é da reporter Carlotta Gail que acompanhava o fotógrafo português quando este accionou uma mina artesanal, na província afegâ de Kandahar, perdendo parte de ambas as pernas e sofrendo lesões pélvicas.
É uma reação típica da pessoa que conheço profissional e pessoalmente desde que nos começámos a cruzar diariamente na cobertura de incidentes de violência e do fim do apartheid na África do Sul, no início da década de 90.
Foi esse o seu reflexo quando o seu amigo Ken Oosterbroek (e também reporter fotográfico) agoniava após ter sido atingido por uma bala de supostas forças da ordem que disparavam em pânico contra impis zulus, encurralados num "hostel" dos arredores de Joanesburgo.
João torturou-se depois com essa sua reacção de "sobrevivência" mas quis também perpetuar assim a memória do amigo, pelo qual não podia, em boa verdade fazer, fosse o que fosse, na altura.
Destemido e, ao mesmo tempo, sensível e humilde, o João entregava-se ao seu trabalho com uma paixão e um olhar raros, agora destacados de novo pelo director do New York Times, Bill Keller, que era na altura o correspondente do diário americano em Joanesburgo e, agora, o chefe máximo do periódico.
A sua mulher Vivian (com quem vive na África do Sul e os dois filhos do casal) foi "brifada" telefonicamente pelo cirurgião que atendeu o marido, em Kandahar e por quem ficou a saber que este ainda não está livre de perigo de vida, apesar de "extremamente forte".
João Silva nasceu em Lisboa, há 44 anos, de onde acompanhou os pais para Moçambique, ainda menino. Dali mudar-se-iam para a África do Sul durante os incidentes de violência que marcaram a independência daquele país.
Estreou-se aos 33 anos como fotógrafo profissionalno Alberton Record, um jornal local daquele município periférico de Joanesburgo, mas rapidamente se notabilizou e ganhou reconhecimento internacional.
É um reencontro de sonho após mais de dois meses encurralados no subsolo rochoso de uma mina de ouro e cobre chilena.
Os primeiros de 33 mineiros começaram a ser içados individualmente à superfície através de um túnel recém brocado e com recurso a uma cápsula construída especialmente para o efeito.
Imediatamente antes as equipas de salvamento fizeram descer um especialista ao abrigo onde os mineiros se encontram retidos há 69 dias, para ajudar os homens debilitados a cumprir em segurança os procedimentos necessários.
É uma operação sem precedentes que está a ser acompanhada em directo através de televisões e rádios de todos os continentes.
É uma luta contra-relógio e contra o desespero de quem está encurralado, 700 metros abaixo da superfície.
As equipas de salvamento vão experimentar um plano alternativo que poderá reduzir a metade o horizonte de resgate até aqui estimado em quatro meses.
A ideia é utilizar uma mega escravadora de abertura de poços de água para alargar uma das três condutas de comunicação entretanto abertas para fazer chegar víveres e medicamentos aos 33 homens, retidos num abrigo da mina de San José desde o passado dia 5.
Sobrevivem há três semanas retidos 700 metros abaixo do nível do solo, numa mina de cobre chilena. Este é um vídeo que os 33 mineiros conseguiram fazer chegar à superfície através de um canal estreito e pelo qual equipas de salvamento lhes têm feito chegar medicamentos e mantimentos básicos. Os mineiros já sabem que levará pelo menos quatro meses até poderem eventualmente ser resgatados através de um túnel que está a ser aberto através do solo rochoso.
O vídeo, com uma duração total de 45 minutos, foi mostrado primeiro aos familiares dos mineiros que estão acampados em redor da mina de S. José, no norte do Chile e através do qual é feita uma 'visita guiada' ao espaço onde aqueles estão retidos desde o desmoronamento registado há 22 dias.
"Temos tudo bem organizado", explica um dos mineiros antes de mostrar uma mini farmácia com álcool, medicamentos, desodorizantes e dentífricos que lhes têm sido enviados.
"Daqui retiramos água para lavar os dentes, o rosto", acrescentou o homem, apontando um bidão, e depois um "pequeno copo para lavar os dentes. Faz-se uma toillet básica. Aqui é onde nos divertimos, onde fazemos uma reunião todos os dias, onde planificamos".
Quatro peritos da NASA, a agência espacial norte-americana, são esperados domingo ou segunda feira, no Chile, para transmitir aos socorristas os seus conhecimentos de sobrevivência em espaços fechados.