Foto: D.R.
Não se iludam; o impacto social dos programas do FMI é devastador.
Testemunhei-o enquanto jornalista em Moçambique quando o país deixou de poder sustentar a dívida externa na década de 80.
A gravidade da actual crise reside mais nas exigências que coloca aos políticos e aos jornalistas do que à aritmética implicada.
Por um lado, há quase uma gração que somos governados por políticos mais preocupados em serem reeleitos e pensarem em sound-bites mediáticos do que em administrar o país para as gerações vindouras e geri-lo como o fariam, sensatamente, com o respectivo património familiar.
Por outro, os media são cada vez mais dominados por jornalistas sem mundo que alimentam o circo predatório em vez de funcionarem como um verdadeiro quarto poder; uma consciência social que deixasse a nú vazios de ideias e exigisse actos administrativos consequentes em vez de multiiplicar tempos de antena onde se massajam egos de entrevistados e entrevistadores.
E se não acreditam experimentem parar um bocadinho e fazer um pouco de aeróbica aos neurónios; imaginem que este país é a casa onde descalçam os sapatitos ao fim do dia e para cujo sustento se foram endividando, ao ponto de já mal suportarem as respectivas prestações.
O banco, como é lógico, começou a duvidar da saúde financeira de alguém que gasta em média mais 500 euros do que ganha por mês e apertou-te os calos. Aumentou os juros. Vai daí, o que fizeste? Informaste a prole que a partir daquele dia, as despesas não só iam ser cortadas ao limite do rendimento da família como, finalmente e de forma sensata, se passaria a gastar um pouco menos do que as receitas, para se poder reinvestir e precaver o futuro.
Juízo? Inteligência? Não. Claro que não. Se lermos e ouvirmos os media portugueses e os políticos por eles ecoados.
Depois de quase uma década a acompanhar como jornalista pessoas do calibre de Nelson Mandela e Desmond Tutu permitam-me ter uma latitude muito restrita para o que poderia ser tão facilmente este país mas não o é; por pura mediocridade e nepotismo.
Como é possível debater-se dias a fio se as medidas de contenção de Sócrates são ou não demasiado penosas quando o que elas são, na realidade, é obscenamente curtas e só reflectem, e mais uma vez, a principal preocupação dos nossos governantes, directores, etc; não perderem o poder.
Se o país consome muito mais do que o que produz e o crédito atingiu níveis insustentáveis só há uma coisa, corajosa, responsável a fazer; chamar os bois pelos nomes e reduzir o consumo ao que efectivamente se produz; seja isso o que for, mesmo que se passe fome;mesmo que se ande a pé, mesmo que se percam as vaidades.
Porque era isso certamente que fariam se fosse a casa, onde vivem os nossos filhos, e o futuro destes, que estivesse em jogo.
E não o é?