Formaram uma das unidades de combate mais efectivas e disciplinadas do nosso tempo, mas foram postos de lado no prato por "correção" política.
O Batalhão Búfalo integrou angolanos empurrados para as Terras do Fim do Mundo, durante a corrida às armas no fim da década de 70.
Depois de serem alimentados e reenquadrados nas forças armadas sul-africanas, foram novamente abandonados à sua sorte, por aqueles que serviram.
Esta é a história real - sem vírgulas políticas ou interesses directos ou indirectos, seja no que for que não seja o relato puro - do atropelar de tudo cometido na independência de Angola.
Uma memória que fica para a História.
Aqui contada na primeira pessoa.
A África lusófona é notícia (desta vez) por bons motivos.
Cabo Verde surge em quarto lugar (incluído no quadro de honra continental de boa governação) e Angola deu um salto enorme no sentido positivo, do chamado index Mo Ibrahim.
É uma avaliação anual, país a país, patrocinada pela fundação de um multimilionário sudanês (Mo Ibrahim).
Nas conclusões deste ano evidencia-se um alerta: as melhorias económicas e de qualidade de vida estão a ser contrariadas por recuos a nível dos direitos humanos e das liberdades civis em muitos países africanos.
A classificação global inclui items como segurança, participatividade, direitos humanos, oportunidades económicas sustentáveis e desenvolvimento humano e é por via disso, que de uma forma algo inesperada, Cabo Verde surge à frente de um gigante como a África do Sul.
Em termos de qualidade de governação, figuram ainda nos trinta melhores países africanos dois lusófonos; São Tomé e Príncipe (11º) e Moçambique (20º).
Apesar de todas as convulsões de que tem sido palco, a Guiné-Bissau figura na 41ª posição, entre os 53 avaliados, à frente de Angola (43ª), o país que mais subiu mas é ainda fortemente penalizado como um dos mais frágeis do mundo em termos de desenvolvimento humano.
Os dois movimentos separatistas cabindenses reclamam a autoria do atentado sangrento que vitimou futebolistas togoleses em trânsito para o enclave.
E um deles, a FLEC-PM, avisa mesmo que haverá novos incidentes do género durante a Taça Africana das Nações de Futebol, iniciada domingo em Angola.
Rodrigues Mingas, auto-proclamado desta facção dissidente afirmou que o alvo dos seus homens nesta emboscada era a guarda militar angolana e não os futebolistas do Togo, por – nas suas palavras – Cabinda estar em guerra.
A mesma argumentação usada por um porta-voz da FLEC-FAC logo após a emboscada de sexta-feira. A diferença está em que o primeiro daquelas facções avisa que irá manter os ataques durante o CAN-2010, o Chefe de Estado Maior da FLEC-FAC anunciou a suspensão das hostilidades durante a prova.
Á gravidade da (irre)solução do problema de Cabinda há várias décadas, acresce cada vez mais a politiquice e as tricas de interesses entre os independentistas no exílio e os elementos armados no terreno.
Luanda insiste tratar-se de uma “questão doméstica” e de “soberania nacional” para rejeitar qualquer pressão ou legitimidade dos independentistas, mesmo quando os cabindenses pouco beneficiam da imensa riqueza natural das suas terras ancestrais.
Nada poderá justificar o derrame de sangue de inocentes – como foi o caso das vítimas togolesas – e daí a condenação generalizada da emboscada como um acto atroz, eventualmente mobilizador de uma caça global aos responsáveis das FLECs armadas.
O problema é de quem tem memória e consciência...porque barbaridades deste calibre ou bem pior já foram protagonizadas por quase todos os países e militâncias, que agora (e bem) chamam terroristas a quem arquivou o respeito pelos direitos humanos, em nome do desespero, de interesses financeiros ou da conquista do poder.
Aí está o que os especialistas há muito prenunciavam; Angola ultrapassou a Nigéria como maior produtor africano de crude, graças a uma inversão dos respectivos quadros de segurança.
Enquanto a guerra civil e a instabilidade a ela associada são um um pesadelo cada vez mais remoto em Angola, mais a Norte, o Delta do Niger é terreno fértil de guerrilha.
Na hora de balanço das respectivas produções em Junho, Angola somou assim, sem surpresas, uma média de 1,8 milhões de barris diários de petróleo contra 1,7 da Nigéria.
E isto, sublinhe-se, apesar de especialistas como Tom Pearmain, da IHSGlobal Insight, sustentar que a Nigéria tem uma capacidade natural de produção de petróleo superior à de Angola, num rácio de 4 para 3.
Mas quando a estabilidade da Nigéria é um cenário, pelo menos para já, algo nebuloso, será seguro antecipar uma corrida global sem precedentes ao próximo licenciamento de exploração petrolífera em Angola, apontado para o próximo ano.
Eu sei que tenho tudo "errado" para o afirmar; sou branco, tuga e, ainda por cima, reincidente a "botar" faladura desconfortável sobre coisas que "não-me-dizem-respeito".
Peço pois assim emprestado o "afronto" a alguém "galoado" como Pepetela, hoje citado na Reuters a afirmar, sem papas na língua, como lhe é timbre:
- Angola é um vulcão à beira de erupção a menos que o combate à pobreza se torne prioridade urgente e palpável.
Alguém o escutou a ele? É possível!
Alguém transformará a lucidez em acção? Bem...isso é outra cantiga.
Pobre protesta baixinho, pois então. Até ao dia em que morde na bota calcadora. Ou já esqueceram o destino da barriga que vai esticando enquanto mingua a da maioria?
Claro! - Vão dizer! Lá vem o Mateus, esse tuga, branco, confusionista, meter pau em sopa alheia.
Acontece que amor pelas gentes é peganhento. E ao africano, muitos o sabem, se peganhentou meu sentir.
Em 72 horas o Papa tornou-se um exemplo de dois extremos opostos:
Irrealismo e frontalidade.
Primeiro, nos Camarões, Bento XVI deu mais um tiro no pé do respeito global pela idoneidade do Vaticano ao condenar o uso dos preservativos no continente mais flagelado do Mundo pela SIDA.
Depois, já em Luanda, sublinhou a obscenidade dos salamaleques internacionais perante um país onde uma pobreza generalizada convive paredes-meias com riquezas indizíveis.
Enquanto em Lisboa a quase unanimidade dos partidos e analistas teve um ataque de amnésia e vestiu as botas do interesseirismo vis-à-vis Luanda, o Papa pediu, à frente de José Eduardo dos Santos, que África se liberte do “flagelo da avidez, da violência e da desordem”.
E mais não digo!
Para quê?