O Ocidente foi objecto do logro do século no assalto ao Iraque.
A antiga chefe dos serviços secretos britânicos britânicos testemunhou hoje perante uma comissão de inquérito que não tinham qualquer base factual os argumentos públicos citados para invasão do Iraque pelas tropas aliadas.
O assalto decidido por George W Bush e Tony Blair, com o apoio expresso de governos europeus como o português (recorde-se a Cimeira das Lajes), foi "justificado" por alegados propósitos terroristas de Saddam Hussein.
Com esse objectivo, ao executivo iraquiano era ainda imputada a produção e acumulação de arsenais de armas de destruição maciça.
Nelson Mandela protestou vigorosamente na altura os argumentos de uma invasão lançada à revelia das Nações Unidas, sublinhando que isso subvertia as bases de multilateralismo e as regras da própria democracia ocidental.
"Uma potência com um presidente que não consegue pensar adequadamente quer lançar o mundo num holocausto!" - sublinhou Mandela, em Joanesburgo, a 29 de Janeiro de 2003. "Ele (Bush) está a cometer o maior erro da sua vida ao provocar uma carnificina".
Washington, Londres e uma parte substancial dos media ocidentais reagiram com sobranceria aos comentários de Mandela, sobre aquilo que vendiam como sendo uma cruzada pelos direitos de um povo (iraquiano), que - na verdade - nunca lhes confiou tal mandato e, no melhor dos cenários, passou de um Estado repressor a um inferno diário.
Mandela sublinhou, na altura, que a postura de Bush e Blair fazia recuar décadas de trabalho diplomático paciente, para esvaziar os argumentos dos ditadores de todo o mundo, incluindo África, que acreditam ser donos da verdade e valores únicos.
O orçamento declarado da defesa norte-americano para este ano ronda os 700 mil milhões de dolares, mais do triplo do produto interno bruto português.
Num ranking dos maiores fabricantes mundiais da indústria da defesa, a revista "The Economist" identifica 14 empresas norte-americanas, numa lista encabeçada pela britânica EADS e onde figura apenas uma russa (Almaz-Antei).
Os menos conhecedores da África do Sul e do nível de desenvolvimento do país anfitrião do Mundial de Futebol, espantem-se que a sul-africana "Armscor" figura entre os 30 gigantes deste sector, com receitas brutas de 212 milhões de euros, em 2009.
Imaginem que o Pentágono e as Forças Armadas norte-americanas também já aderiram à febre dos sites sociais globais e têm páginas próprias no Facebook e no Twitter.
A ideia é não só passarem mensagens na primeira pessoa ao seu público alvo mas pescarem recrutas numa população cada vez menos sensível aos media convencionais.
Imaginam um general norte-americano de queixo quadrado, tipo John Wayne, a dirigir-se ao interlocutor tipo "amigo junte-se a nós. Somos aquilo que sempre sonhou mesmo que nunca tenha dado por isso"?
Pois então aí está. Sinal dos tempos. E da agilidade de quem está atento.
Israel declarou um cessar-fogo unilateral com o Hamas em Gaza que deve durar menos do que o secar da tinta no papel do acordo.
Sem qualquer surpresa o Hamas responde que do seu lado vai continuar a despejar bombocas sobre os israelitas, que por sua vez permanecem acantonados, pelo menos 10 dias, na Faixa de Gaza.
Convido-o(a) a visitar o site do Hamas na internet, a ler a respectiva declaração de constituição e a repensar o que faria com tais meninos do coro se os tivesse por vizinhos.
Israel pode ter pisado o risco zilhões de vezes mas o Hamas, esse, nunca o fez. Não por estar acima de crítica mas por sempre ter vivido do lado de lá da vedação dos que acham que alinhar os próprios filhos na mira de uma espingarda e provocar ao limite o atirador é garantia de vaga no paraíso.
O exemplo vem de cima; ditam a sabedoria e as normas mais básicas da disciplina.
E em nenhuma àrea do Mundo Ocidental isso é mais central do que nas forças armadas.
Certo? Errado. Pelo menos numa primeira leitura do que aconteceu agora na vizinha Espanha.
O protocolo exigia que a ministra da defesa participasse de vestido comprido numa cerimónia militar mas Carme Chacón optou por apresentar-se de Smoking deixando em brasa os subalternos.
Regras são regras. Imagine-se o que aconteceria se um dos oficiais tutelados por Chacón também preferisse resguardar-se do frio com um traje menos “exposto”.
Como se vê a bandalhice não conhece fronteiras.
P.S. É claro que muitos tugas vão achar que ela fez muito bem e é por essas e por outras que o nosso país é o granel conhecido...
O exemplo, moral, foi-nos dado há uns anos por um Senhor (com “S” maiúsculo) chamado Nelson Mandela.
Na altura do “acerto” de contas com os promotores do sistema de apartheid, Mandela afirmou serem inaceitáveis as violências cometidas contra civis tanto pelo sistema racista como pelos que se lhe opunham.
Nenhuma causa justifica o ataque a civis indefesos, por muito desesperada e desproporcional que seja a luta travada – sublinhou o velho senhor, ao pedir desculpa, em nome do ANC, pelos excessos cometidos.
No caso Palestinianos versus Israel, devemos ter isso sempre presente.
Para ambos os lados.
É um terreno onde ambos ultrapassaram há muito os limites mínimos do tolerável humanamente e, por isso mesmo, cabe a ambos recuarem em aproximação.
O facto é que após Israel se retirar de Gaza o Hamas passou a usar esta faixa para lançar ataques transfronteiriços contra civis. O Hamas não cedeu coisa nenhuma. Manteve as mesmas exigências apresentadas antes da retirada israelita e a causa de destruir aquele país.
Ao fim de meses a levar com centenas de roquetes lançados do território que desocupara, Israel resolveu ir atrás de quem lhe bombardeava a casa.
Questiona, no caminho, se haverá “resposta desproporcional” quando nos metralham a mulher e filhos.
O que mais me impressiona na maré de blogs, jornais, revistas e outros veículos de informação é a quantidade de portadores de “certezas”, única e absolutas, quase sempre alicerçadas em opiniões puramente pessoais.
E um exemplo onde isso transparece de forma obscenamente evidente é o que chamam de "conflito israelo-palestiniano", onde o próprio confinamento do problema a dois actores traduz a profundidade do maniqueismo em causa.
Aprofundo ainda mais a provocação; não vos dá que pensar o mar de vítimas civis e, em particular, de crianças, derivado do corrente assalto israelita a Gaza?
Pensem um pouco sobre isso. Ao final da tarde volto aqui para partilhar um pouco convosco o que me ocorre, decorrente de anos de experiência como jornalista em zonas de conflito.
É a excepção que confirma a regra; nunca pensei como jornalista advogar a urgência de um golpe de Estado num país. No caso presente, em defesa do povo do Zimbabué.
Quando um velho senhor (tornado autista) destroi os sonhos que ele próprio ajudou a construir e, pior do que isso, advoga que o continuará a fazer a qualquer custo, é tempo de o ajudar a descer do poder.
Hoje, aceitou levar finalmente a tribunal 10 activistas dos direitos humanos que estavam a ser torturados há três semanas pela polícia por denunciarem as atrocidades cometidas no país.
Mugabe insiste que o país é DELE (“Zimbabwe it´s mine”) e por isso irá continuar a ignorar resultados de eleições que lhe são desfavoráveis.
Num país que já foi um celeiro regional, morre-se à fome e de uma epidemia de cólera que Mugabe “decretou” terminada há duas semanas.
Uma semana após ser alvejado à sapatada por um jornalista iraquiano, George W Bush é apelidado de “estúpido” por Robert Mugabe, o tal que continua no poder oito meses depois de o seu partido ter perdido as eleições.
Indiferente ao facto de a epidemia de cólera continuar a devastar o seu país (à revelia de um decreto presidencial que a deu por extinta), o ditador do Zimbabué insiste que o problema está nos críticos e não na sua gestão ruinosa.
Pressionado, timidamente, pelos seus pares africanos, Mugabe acabou por aceitar formar um governo de coligação com o partido vencedor, mas insiste em reter todos os principais ministérios, incluindo os que sustentam a sua máquina repressora.
Agora, em mensagem de Natal, vira as baterias para a gestão Bush e afirma que as criticas proferidas à sua postura, pela Casa Branca, não passam de “coices de um cavalo moribundo”.
Aí está! Um prémio Nobel da Paz a defender o recurso à força para deposição de um governante!
A declaração de choque saiu do Arcebispo anglicano Desmond Tutu e o visado é o presidente zimbabueano Robert Mugabe.
Há oito meses que o lider da ZANU-Pf mantem o seu partido no poder apesar de este ter sofrido uma pesada derrota nas eleições autárquicas, tal como ele próprio o foi na primeira volta das presidenciais.
Ainda esta semana, o governo de Mugabe emitiu notas de 100 milhões de dolares zimbabueanos que pouco mais compram no país do que uma saca de farinha.
Isto enquanto finalmente assumia a incapacidade de lidar com uma epidemia de cólera devastadora que já provocou mais de 500 mortos.
Mugabe vai entretanto reprimindo a oposição e os críticos enquanto aquele que já foi um celeiro continental morre à fome.