O escultor de pedra, de metal ele mesmo forjado, diz tudo sem abrir a boca. Ali, prantado há décadas, à entrada da Escola (Secundária) Industrial Infante D. Henrique, no Porto.
De maço, alçado, segura o escopro de encontro ao calhau de pedra, onde rasgará sulco pensado, que, por enquanto, só ele vê.
Sem uma palavra, uma única que seja, diz tudo, para quem o quiser ver. Para quem ainda o vê, entre os passantes, correntes, entre a escola e outros destinos. Como os meninos ali diariamente refundidos.
Alguém branqueou com tinta aquela cara de metal verde e a obra assim, temporariamente delapidada, parece ter-se mascarado de vida e que, num gesto de magia, irá finalmente soltar a palavra.
Uma que seja. Prenha do amor, insuspeito, por detrás daquelas paredes diariamente semeado. Há décadas. Em gerações de alunos. De adolescentes.
Palavras que o vento não leva, mas antes penteia. Dentro de nós.
Abençoada escola, que tais sementes deita. Com um carinho que tudo contorna, incluindo a suposta aridez do vaso recipiente. Porque onde alguém desenha sonhos, se recortam arco-íris.
E a terra se refaz, fértil. Negra. Pronta ao semear dos girassois.