Eram mortes anunciadas. Sem ser preciso um sangoma africano para o descortinar.
Nino Vieira e o Chefe de Estado Maior Na Waié tinham literalmente um ódio de morte recíproco e foi isso que lhes caiu em sorte.
Foi primeiro Na Waié, que por sua vez já sucedera a um Chefe de Estado Maior assassinado no seu gabinete em Bissau. Agora em vez das balas o destino foi consumado por uma bomba que os apoiantes do general consideraram asssinada por Nino.
O resultado foi um assalto retaliatório à residencia do Presidente da República, onde o entrevistei há dois anos.
Recordo o cofre enorme atrás da sua secretária e de pensar “que cena caricata”. Uma espécie de banco do jogo do monopólio arrumado junto a uma porta de acesso ao jardim traseiro, através do qual Nino saía de casa.
É um país com uma longa história de violências mas onde só se recordam as politicamente correctas.
Alguém se lembra do assassínio brutal e gratuito dos majores portugueses que Spinola enviara para negociar um acordo de paz com o PAIGC à revelia de Lisboa?
Alguém recorda as centenas de militares negros presos, executados e sepultados em valas comuns só por terem servido a bandeira portuguesa?
Às vezes é melhor não haver memória. Sermos todos amnésicos.