Há pessoas cujas vidas são uma semente de esperança para todos nós.
Outras, ainda mais raras, dão-nos a benção de nos acordar para fora de nós.
Nessa altura deixamos de olhar para o que o Mundo e a vida nos podem dar e passamos a iluminar-nos na busca do que podemos semear...e dar aos outros.
Vale o que vale em termos de real substância humana, mas o facto é que é uma pedrada nas referências sociais prevalecentes.
A Islândia, esse país que se tornou a primeira grande vítima da crise económica mundial, vai ter o primeiro chefe de governo assumidamente homossexual.
Johanna Sigurdardottir, de 66 anos, da Aliança Social Democrática, sucede no cargo a Geir Haarde, que se demitiu num contexto de bancarota daquele que já foi um dos países de economia mais dinâmica do Planeta.
O novo executivo desta antiga hospedeira e até aqui ministra dos Assuntos Sociais só deverá durar até 9 de Maio, data em que terão lugar eleições gerais antecipadas no país.
Mais uma vez, vale o que vale, mas é pelo menos interessante a queda de percepções homofóbicas a esta escala.
Emprego e decorrente salário ao final do mês é um dado adquirido para a generalidade dos adultos em idade produtiva, ou, pelo menos, tem-no sido até aqui.
Que é um privilégio gostar-se daquilo que se faz, já o sabemos, mas que o seja ainda e cada vez mais conquistar e manter um posto de trabalho remunerado, isso é um sinal dos novos tempos.
A OIT lança agora um alerta de que quarenta milhões de pessoas podem engrossar este ano o número de desempregados no mundo, se a situação económica se continuar a deteriorar.
A Organização Internacional do Trabalho sublinha ser esse um cenário conservador já que num quadro mais grave tal número poderá atingir os 230 milhões.
Quando milhares de licenciados pelas nossas universidades engrossam anualmente o rol de desempregados ou enganam a fome a trabalhar como balconistas em lojas de comida rápida é bom que repensemos a forma como encaramos os nossos empregos.
No final de contas, um salário seguro e certo ao final do mês vale bem um sorriso dentro de nós a não ser que resolvamos alimentar o mesmo autismo com que encaramos a saúde: - só a valorizamos quando nos falta.
É preciso acrescentar mais alguma letra?
Conheci-o há década e meia no ultimo comício da UNITA realizado na mata.
António Maria Pereira era na altura a figura mais senior do PSD (liderado pelo então Primeiro-Ministro Cavaco Silva) entre os deputados portugueses que foram ao reduto do movimento do Galo Negro em tempo de guerra.
Recordo-o como um Senhor de modos e educação irrepreensíveis, arriscaria mesmo, fora de um tempo onde essas “esquisitices” são algo quase “fora de moda”.
António Maria Pereira foi alvo de uma brincadeira de João Soares, que se mexia entre os homens de Jonas Savimbi como um VIP, muito especial, após sobreviver a um desastre de aviação em terras da UNITA.
O “traquinas” socialista deixou o pobre social-democrata com os nervos em franja por não ser portador de uma mensagem de Cavaco para o Congresso da UNITA, algo que – segundo Soares – seria no mínimo interpretado por Savimbi como uma “deselegância”.
Um tal “alerta” de alguém tão conhecedor das sensibilidades do “mais velho” teve um eco devastador em Maria Pereira, que multiplicou pedidos de ajuda e instruções à liderança partidária, através do telefone de satélite da UNITA.
A brincadeira não se ficaria por ali mas, na hora do desaparecimento deste Senhor, com “S” grande, também não vou levantar mais o véu. Asseguro-vos apenas que o deputado socal-democrata passou com cinco estrelas em todo o teste, a começar no da capacidade de se rir de si mesmo.
Memórias para a memória de alguém raro, que nos deixa mais pobres.
Pelo menos dois milhões de franceses foram vítimas de incesto – um quadro revelado em inquérito tornado hoje público.
O estudo executado pelo Instituto de sondagens IPSOS foi encomendado pela Associação internacional de Vítimas de Incesto (AIVI).
Apesar de um em cada quatro franceses afirmar conhecer uma alegada vítima deste tipo de agressões, o número de casos penalizados criminalmente é uma fracção ínfima dos alegadamente cometidos.
Uma situação derivada de a maioria das agressões ser cometida por familiares ou pessoas próximas da vítima, da atitude social de rejeição-negação deste tipo de incidentes e da ambiguidade do actual quadro legislativo gaulês relativamente ao problema do incesto.
Revelador é ainda o facto de um em cada cinco franceses reconhecer que não saberia o que fazer se um menor lhes dissesse que fora vítima deste tipo de agressão.
Só corações e mentes empedernidos escaparão às sucessivas alegorias convidativas a reflectirmos sobre o sentido do nosso estar no mundo e à urgencia de diariamente estendermos e procurar nos/com os outros esse mesmo sentido.
Benjamin Button é um drama baseado no conto homónimo de F. Scott Fitzgerald e centrado na vida de um personagem (interpretado por Brad Pitt) que nasce velho e morre bebé.
Ganhe ou não este filme (com auguram os críticos) um ou mais Óscars foi indiscutivelmente um dos dinheiros que melhor empreguei até hoje, a ir ao cinema.
Deixou-nos há 25 anos. Um dos poetas que mais cordas tocou dentro de mim.
Dentro de tantos como eu, para quem os brilhos das palavras não têm partidos ou quezílias, apenas magias. Abraços de seres humanos que o são.
Humanos.
Obrigado José Carlos Ary dos Santos, por me teres pintado de irreverência, sonhos e utopia, a minha idade de o ser. Isso mesmo.
José Carlos Ary dos Santos