Carlos Pinto Coelho deixou-nos bem mais pobres após uma vida inteira a somar-nos saberes, curiosidade pelo diferente e, acima de tudo, uma paixão assumida pelas suas raízes africanas, por ele acarinhadas desde que aterrou em Moçambique com apenas um ano de idade.
Dele guardo a paixão pela cultura, o cavalheirismo, o inconformismo com a "ditadura" das audiências e, incontornavelmente, o ACONTECE!
Um homem agre e doce. Colega e companheiro, de quem eu sempre esperava, enquanto colega da RTP, palavras desassombradas, de crítica construtiva, sábia, sem vírgulas ou adornos.
Obrigado Carlos por teres acontecido. Nas nossas vidas. Até ao fim da tua.
Aconteceu que um ministro prepotente acabou com o primeiro telejornal cultural português que durava há 9 anos "porque saía mais barato pagar um viagem à volta do Mundo a cada telespectador do programa do que o manter"; aconteceu que alguém se esqueceu de quem desbravou o caminho para a RTP Internacional e RTP África e, como recompensa, foi enviado para as catacumbas da RTP Memória; aconteceu a alguém que criou um novo conceito de jornalismo cultural transformando-o em serviço público, acessível a todos; aconteceu a alguém que amava a fotografia e o jornalismo à antiga, sem submissões. E assim Acontece(u) a Carlos Pinto Coelho.
Do Carlos aprendi, com colega e amigo, que vale a pena não ficar calado, mesmo quando o preço é ser-se emprateleirado, por dizer verdades incómodas. Porque vale mais um segundo de dignidade e um grama de valores do que vaidades autistas, das quais não rezará a história. O Carlos, esse, terá sempre o palco principal. Porque é esse o seu lugar. Dentro de mim