Custa-me a entender como é que alguém medianamente inteligente ainda presta alguma atenção à política neste país quando o vazio de valores humanos e de coerência parece ser cada vez mais um pré-requisito para o desempenho da tarefa.
Até o facto de um partido chegar ao poder graças a promessas eleitorais que depois não cumpre (se é que alguma vez o tencionou fazer) parece uma questão de somenos, já que no léxico politiquês o valor não reside em honrar a palavra mas na arte de a reescrever ao sabor da conveniência do momento.
Tempos houve em que era apanágio dos jornalistas e observadores de política servirem de consciência pública de quem é eleito para administrar o património colectivo graças a compromissos e a credibilidade de os vir a honrar.
Hoje, fazem-me lembrar aqueles cães vira-latas, que seguem em fila atrás uns dos outros, sem desalinhar ou desafinar, de nariz espetado naquele sítio onde começa a cauda do da frente.
Oxalá um dia falte a luz, se percam uns dos outros e tenham de velar pelo passeio em que todos caminhamos, usando o instinto canino e não apenas o cheiro do que o precede na fila.