Muito mais cedo do que esperamos, todos os que trabalhamos por conta de outrém vamos ter cortes nos salários para evitar seguirmos o descalabro de Atenas.
A matemática é uma ciência lógica e exacta. Quando consumimos muito mais do que o que produzimos, o fazemos há muito e nos habituámos a depender de um Estado em rota de falência (insustentável a médio e - ainda mais - longo prazo), o acerto só é possível através de um aperto de cinto radical.
É como gastar-se todos os meses mais do que o recebido em salário!
Durante muitos anos sustentou-se isso à conta dos décimos terceiros e quartos meses. E depois com a conta-salário. O problema é que o credor – o Estado – também já se endividou ao limite dos juros que consegue suportar!
E agora? A solução é óbvia. Penosa, mas óbvia.
Habituámo-nos a um laisser-passer, décadas a fio, acreditando na sustentação do país por uma suposta qualidade de serviços, quimera que, de repente, está a ser deixada a nú. Sem anestesia.
Para mim que multipliquei o amor pelo meu país - ao residir 16 anos no estrangeiro (por destacamento de serviço) - e me incomodam os velhos do Restelo ser-me-ia "lógico" e fácil enterrar a cabeça num buraco e presumir a ignorância do mensageiro.
Só que eu exerço este meu patriotismo da mesma forma que sou pai; olhando os problemas com carinho e positivismo mas também de forma realista e responsável.
Não se iludam; o filme “Up in the air” de George Clooney poderá parecer uma visão cínica da forma como empresas e países serão cada vez mais geridos. Mas é – em boa verdade – cada vez mais a via-padrão, num mundo onde os valores prevalecentes são financeiros e não humanos ou humanizantes.