Grafismo: NYT
O alerta é do New York Times:
As mesmas forças que conseguiram, finalmente, o sufoco da economia portuguesa comprometem o futuro das restantes democracias ocidentais, em termos de latitude fiscal e não só.
Leia por si o artigo e verifique a solidez desta análise:
http://www.nytimes.com/2011/04/13/opinion/13fishman.html?src=ISMR_AP_LO_MST_FB
....mas este alerta levanta uma interrogação preocupante sobre a lucidez dos lideres ocidentais, quando parecem mais preocupados em apontar dedos do que em identificar e atacar um problema, predatório, que lhes baterá à porta, mais tarde ou mais cedo, em efeito dominó.
Foto: D.R.
Não se iludam; o impacto social dos programas do FMI é devastador.
Testemunhei-o enquanto jornalista em Moçambique quando o país deixou de poder sustentar a dívida externa na década de 80.
São nossos os meninos sem tecto deste mundo.
Vi-os aos milhares em campos de refugiados, olhando-nos como se fossemos jangadas para um mundo melhor.
E nós, adultos, nos rodeávamos de mar, tornados ilhas de álibis, para podermos sair dali, desancorados do nosso próprio coração.
Mas quando olho bem para dentro de mim vejo-os lá todos. Cada um deles.
Como aquele menino da foto do Kevin Carter, observado por um abutre. Como se não fosse nossa a missão de espantar o pássaro e lhe dar, a cada um deles, um motivo de sorrir.
Passam 50 anos que nasceu Kevin Carter, um dos reporteres fotográficos mais notáveis que conheci na minha vida.
Kevin adorava crianças mas ganhou um prémio Pulitzer com a foto de uma menina faminta no Sudão, agachada frente a um abutre.
Meses depois suicidou-se, assombrado por mil pesadelos.
É para ele a minha memória ...desta canção, que lhe pertence, no meu coração.
É uma voz notável que através da música já foi vincada pela Times como uma das 100 mais influentes do Mundo.
Escutei-a em Brazzaville, no Ruanda e em Moçambique, um apelo arrepiante de união humana.
E porque não? Se o quisermos?
E deixa teu corpo arrastar-te nesse gingar que apetece, tornando-nos parte da natureza, deste chão telúrico que nos agarra e alimenta.
Somos felizes. Tantas vezes sem darmos por isso.
O atirador dispara da sede do partido Frelimo em Maputo.
As imagens falam por si, por trágica que seja a leitura das mesmas, em todos os aspectos.
Pelo menos quatro pessoas morreram e mais de uma centena de outras ficaram feridas durante protestos contra o agravamento acentuado do custo de vida em Moçambique.
Nada justifica o vandalismo e muito menos o extravasar das emoções. Mas se isso é válido para o cidadão comum ainda o é muito mais para quem representa o Estado e é suposto defendê-lo da tentação da prepotência, ou, no caso pendente, o faz de dentro da sede do partido no poder.
É verdade que o governo de um país pobre não tem grande margem de manobra para suavizar o impacto social da crise económica mundial, mas o facto é que também deveria ter pensado isso quando em 2009 sustentou artificialmente a economia para não agravar o custo de vida em ano de eleições.
Ganhou-se o escrutínio. Hipotecou-se o futuro. E agora?
O alerta é das Nações Unidas; o número de pessoas à fome no Mundo deve ultrapassar este ano pela primeira vez a fasquia dos mil milhões!
E o mais chocante é que a esmagadora maioria dessas pessoas reside em alguns dos continentes potencialmente mais ricos do Planeta em termos agrícolas; Ásia-Pacífico e África.
As causas são múltiplas (quanto o seriam as respectivas soluções) mas um facto é que a humanidade continua de costas voltadas para os mais frágeis enquanto prevalece o umbiguismo.
Já não falo das toneladas de alimentos deitados anualmente ao lixo por excederem as chamadas cotas produtivas de blocos económicos.
Um problema alheio? Nem tanto! Já reparou nos “restos” de comida que todos os dias manda para o lixo em casa ou deixa na mesa em restaurantes?
Já reparou nas quantidades pantagruélicas de calorias e produtos redundantes que ingere todos os dias?
Já reparou que uma alimentação inteligente e eco-amiga pode ser a chave para um corpo, uma mente e uma carteira bem mais saudáveis.
Então porquê o autismo intelectual com que todos dias pastamos as refeições, quais ruminadores em rotina de acumulação calórica, precavendo dias de fome?
Amanhã, sexta-feira, assinala-se o dia Mundial da Alimentação! Pense nisso, aja, seja bem mais saudável e ajude os outros a sê-lo.
Como é habitual, no nosso Eurocentrismo, vamos ignorar ou até menosprezar o alerta do rei zulu Goodwill Zwelithini mas se por acaso fôssemos mesmo uma sociedade culta, como gostamos de acreditar, teríamos uma atitude bem diferente.
Zwelithini é a primeira figura de uma das maiores e mais antigas etnias de África, portadora de valores colectivos que só perdemos em ignorar.
Entre nós será unânime criticar o colonialismo e o racismo mas quando milhares de zulus sofrem de fome numa das regiões mais ricas do mundo em termos agrícolas e todos ignoramos os protestos de Zwelithini quem será que está errado? Ele ou nós?
É claro, como as televisões não o mostram e isto se passa no hemisfério sul, não temos nada a ver com isso.
E assim vai a nossa civilização.